Sábado foi aniversário da minha mãe. Eu não gosto de aniversários na minha família, em geral, mas dessa vez decidi fazer algo de diferente. Decidi descer, beber a Coca geladíssima e socializar com minhas tias e primos.
Foi a primeira vez que eu parei para pensar na trajetória da minha família.
Toda minha família vem do Ceará, da área rural de Fortaleza (nem sei existe mais, mas naquela época era rural). São 12 irmãos - 8 mulheres e 4 homens. Os irmãos ficaram todos no Ceará, enquanto as irmãs vieram quase todas para o Rio de Janeiro. Primeiro, a irmã mais velha veio para ficar na casa de uma tia. E foi trazendo, uma a uma, as irmãs mais novas, que sempre se ajudavam e conseguiam trazer mais irmãs.
Sem escolaridade, sem cultura, sem lazer. A vida na roça, como elas dizem, era assim. Era acordar às 4h e deitar às 22h, todos dias, capinando, carregando peso, cuidando dos animais.
Algumas conseguiram se qualificar um pouco aqui no Rio e arranjaram empregos melhores. Mas a mudança veio mesmo com os casamentos. Em uma época de ditadura militar, muitas se casaram com militares enquanto outras se casaram com uns 'zé ninguéns' (minha mãe incluída).
Olhando hoje, passado esse tempo todo, todas tem casa própria. A maior parte delas foi capaz de dar condições para que os filhos chegassem à Universidade, apesar de apenas 4 cursarem/terem cursado pública. Eu fui o primeiro da minha geração a ingressar em uma Universidade Pública. Antes de mim, duas primas e depois de mim, apenas meu irmão.
O salto social das 'paraíbas cabeças-chata' foi incrível. E minha mãe foi uma delas.
Pela primeira vez, eu reparei no jeito da minha mãe. No seu modo de agir. Na sua forma de pensar.
E reconheci tanto de mim nela. O jeito muitas vezes explosivo (embora eu esteja longe de ser uma pessoa nervosa e estressada como ela), o jeito íntimo muitas vezes não correspondido, a facilidade em angariar a simpatia das pessoas, o modo de se portar diante de situações difíceis, o jeito bêbado de ser inconveniente, enfim.
Tanta coisa que já passou despercebido. Tanto esforço do qual sou fruto e nunca tinha me dado conta.
Nesse momento foi que eu percebi algo muito importante: nunca queremos ser iguais aos nossos pais, apesar de muitas vezes os utilizarmos como espelhos, como exemplos. Porque, apesar de lutar contra tudo e todos para ter nossa própria individualidade, temos sempre tudo de melhor...e de pior deles.
E, sinceramente? É exatamente isso que nós faz tão únicos. Pela primeira vez, eu me orgulhei, emocionado, de ser filho de quem eu sou. De ser fruto do que sou. E de reconhecer que mesmo nossos defeitos tem uma importância enorme na construção de quem realmente somos.
Obrigado por me proporcionar isso, mãe.
Te amo.